segunda-feira, 17 de maio de 2010

Apenas duas letras

Queridos amigos,
queremos adotar duas das sugestões que recebemos de pessoas queridas desde aquela tarde de sexta-feira chuvosa e triste de abril:

Primeira: manteremos o blog ativo, com o objetivo de manter viva a lembrança e dar testemunho das tantas sementes que o Homero semeou entre nós.


Segunda: alteraremos o título do blog em apenas duas letras, mas que traduzem perfeitamente nosso atual sentimento, a saudade.


Portanto, a partir de agora o blog estará em novo endereço:

www.SaudadePastorHomero.blogspot.com

Denize, Mateus, Catarina e Leandro

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Jornal Primeira Página

Reportagem publicada pelo Jornal Primeira Página em 30/04/2010

"A fé (e a vida) não se limita a este mundo"


Pastor Homero perde a vida em consequência da malária


Marcelo Fiori

Os sinos da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) dobraram cedo na turva manhã de 23 de abril. O vento uivava, caía uma chuva miúda e se ouvia longe aquelas badaladas pausadas que participam a morte. O primeiro vice-presidente da IECLB, pastor Homero Severo Pinto, 57 anos, estava à margem da vida. Era o fim de uma batalha que perdurou por 40 longos e doídos dias - a grande maioria deles na UTI do Hospital São Lucas da PUC, em Porto Alegre.

A notícia ecoou no mundo, tal como as mensagens que Homero prop
alara ao longo de três décadas investido no cargo de pastor luterano. A derradeira despedida espalhou perplexidade e lamentações em cada caminho trilhado, tamanha a grandeza de seu caráter, que era extraordinário justamente por não parecer que era. Foi dessas mortes paradoxais que ser humano algum depreende as razões. Porque foi ao exercer sua missão de vida que acabou sendo acometido pela malária, doença que desencadeou severas complicações em questão de dias.

A partida do segundo homem na hierarquia da IECLB arrastou uma multidão ao bairro Estação Portão, onde se localiza o templo cuja nave não deu conta de abarcar tanta gente durante o velório. A quantidade de pessoas presentes, o número de homenagens e o volume de condolências oriundas do país e do mundo deram ideia do quão magno era havido o religioso portonense. Uma repercussão do tamanho da humildade dele.

Findo o velório, que se encerrou com uma cerimônia religiosa na manhã de sábado, o féretro se deslocou para o Cemitério Municipal de Taquara, onde ocorreu o sepultamento. Não houve quem não chorasse imerso de tristeza. Ele deixou a esposa Denize Volkart Pinto (professora coordenadora pedagógica do Sinodal Portão), com quem era casado desde 1976, e os filhos Catarina (juíza federal, nasc
ida em 1979) e Mateus (veterinário, de 1982).

Nesta semana, a morte do pastor Ho
mero ressoou no Senado Federal pela voz do parlamentar gaúcho Paulo Paim, que pediu para a Mesa Diretora da Casa encaminhar voto de pesar à família. Eram amigos. Na internet, sites em diversos idiomas de países os mais variados davam conta do tamanho da perda.

O presidente da IECLB e moderador do Conselho Mundial de Igrejas, Walter Altmann, sublinhou o legado deixado pelo colega. "O falecimento do pastor Homero causa grande consternação e tristeza na igreja. Somos gratos pela vida e testemunho dele no Brasil, como entre igrejas irmãs e parceiras. Na confiança que temos em Deus, as sementes que Homero disseminou frutificarão em bênçãos para muitas pessoas." Já o reitor da Escola Superior de Teologia (EST) de São Leopoldo, pastor Oneide Bobsin, ponderou que Homero se orientava pelo diálogo "reconhecendo as diferenças e sem encobrir injustiças".

As palavras que compõem o título desta reportagem - sem os parênteses, contudo - foram proferidas por Homero a 9 de março de 2004, na Casa Matriz das Diaconisas, em São Leopoldo, por ocasião do falecimento da irmã Doraci Edinger. Durante a homilia, o portonense ressaltou que "a ressurreição de Cristo permite um novo olhar, uma vez que a fé não se limita a este mundo".

A personificação da humildade

"Até as paredes choraram." O prefeito Elói Besson evocou uma prosopopéia – figura de linguagem que dá vida e ação a coisas inanimadas – na tentativa de explicar o imenso sentimento lúgubre que se abateu sobre o templo situado na rua Martim Lutero. Revelou não ter visto tantas ho
menagens nem mesmo em velórios de ex-presidentes da República do período ditatorial.

Para Besson, que volta e meia ouvia o líder pastoral pelas ondas da Rádio União FM, não há outra explicação que não seja uma espécie de convocação divina. "Deus o chamou para uma grande missão no céu." Declarou, ainda, que perdeu parte de si na morte do pastor, cujo andar trazia junto "a inteligência e o respeito".

Dos olhos azuis do ex-prefeito Dary Hoff verteram lágrimas durante todo o tempo em que permaneceu no velório. O homem com nome de
poeta épico grego foi secretário da Educação, Cultura e Desporto de 1993 a 1996, quando Hoff governou Portão pela primeira vez. Sem filiação partidária, ele assumiu o cargo a convite do então prefeito e contra seu nome sequer um ai foi dito no âmbito político. Fora escolhido apenas pelo critério competência.

Entre tantos avanços, a gestão de Homero ficou marcada pela criação da Gincana da Emancipação de Portão, o maior evento cultural da cidade até hoje. Na opinião do ex-prefeito, que é ligado à IECLB, a comunidade local nunca teve um líder tão carismático. Da pessoa, disse Hoff, fica a marca da sabedoria e da simplicidade. "Uma perda irreparável. Muito humano e humilde. Não foi à toa que ele chegou aonde chegou", salienta.

Um homem que ouvia, sobretudo. Assim o diretor-geral do Colégio Sinodal, Ivan Renner, vê a imagem de Homero Severo Pinto. Ao pastorear o rebanho de fieis, o portonense exercitava o sentido da audição como poucos para, só então, aconselhar. Agia de forma fraterna e engajada. E
ra devotado à causa da igreja e da educação.

O projeto do Sinodal Portão ganhou incondicional apoio e incentivo do primeiro vice-presidente da IECLB. "Ele agregou muito ao modo de ser e de p
ensar de muita gente. Ajudava onde e como podia. Tanta vocação o levou a tantas tarefas, e até na África, onde contraiu a doença. É algo que a nossa racionalidade não alcança compreender", frisa Renner.

O avanço da doença

Primeiro muito cansaço, depois febre e
calafrios. Começou assim, em 6 de março último, com sintomas aparentemente comuns, a doença que levou o pastor Homero Severo Pinto. Quatro dias depois ficou diagnosticado que sofria de malária maligna – mal que havia contraído em fevereiro ao viajar para Moçambique, na África.

Coordenador da Missão Global da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), o religioso representou sua entidade em reunião das igrejas parceiras da Igreja Evangélica Luterana de Moçambique, ocasião em que se discutiu o envio de obreiros do Brasil para o país africano.

Em 12 de março, com o quadro de saúde se agravando, Homero foi internado no Hospital da Unimed, em Novo Hamburgo. Tinha febre constante, confusão mental de espaço e tempo, inquietude. Sem melhora, passou para a UTI da mesma instituição na madrugada do dia 14. Na tarde do mesmo dia, porém, diante da necessidade de hemodiálise e uma UTI mais qualificada, acabou encaminhado ao Hospital São Lucas da PUC, em estado grave. As funções do cérebro, do fígado e dos rins foram atacadas pelo protozoário plasmodium falciparum, causador da malária maligna.

O paciente experimentou uma internação homérica – no significado "fora do comum" da palavra. No início, reagiu à medicação e aos cuidados médicos, mas seguia na UTI. Dias depois, contraiu pneumonia e sofria também de insuficiência renal aguda. Teve convulsões. Com a piora, a 24 de março, precisou ser sedado e entubado. Tinha infecção generalizada, o chamado "choque séptico". Estado gravíssimo.

Em meio a tanta desventura, o luterano, que até então nunca havia tido nenhum problema grave de saúde, lutava silente pela vida. Aparentava pequenas melhoras que alimentavam as esperanças de todos. No dia 28 de março, o médico responsável pelo tratamento disse à família que, em mais de 40 anos, seu chefe nunca vira alguém resistir com tão baixa oxigenação (nível altíssimo de gás carbônico no sangue). Dias depois, resistiu a um acidente vascular cerebral (AVC). E outro exemplo surpreendente da garra de Homero se viu no último dia 15, quando sofreu uma parada cardíaca de quatro minutos, ao cabo da qual resistiu - ainda que em estado gravíssimo, ainda que com o organismo no limite.


Vencida essa etapa, houve algumas sutis melhoras no lento folhear dos dias. No entanto, no dia 19, seus pulmões estavam fibrosados (processo de degeneração) de modo que quase impediam a função respiratória - esta ainda possível graças a uma máquina de ventilação mecânica operando no máximo. Também voltou a ser submetido a hemodiálises para filtrar o sangue (recebeu várias transfusões durante a internação) e a equipe médica suspeitava que a esta altura já havia lesões no cérebro.

Veja o que a família escreveu em um blog na internet (eram tantas as pessoas ansiosas por notícias que esse foi o meio encontrado para que todos pudessem acompanhar o caso) no dia anterior à morte por falência múltipla de órgãos, 22 de abril:

- Agora à noite, após chegarmos em casa, nos ajoelhamos e oramos pelo milagre da cura do pai. Esperamos por sua cura, pela manifestação plena do poder de Deus, se esta for Sua vontade. Enquanto houver vida, continuaremos orando pelo seu restabelecimento. Não há mais o que os médicos possam fazer - os níveis de saturação estão muito baixos, a pressão da ventilação mecânica está muito alta e provavelmente já há alguma lesão cerebral.




Uma vida inteira dedicada à IECLB

Nascido em Sobradinho a 8 de julho de 1952, Homero Severo Pinto ingressou na Faculdade de Teologia da Escola Superior de Teologia, em São Leopoldo, em 1972. Dali saiu pastor formado cinco anos depois. No dia 5 de fevereiro de 1978 foi designado para a Paróquia de Igrejinha, onde permaneceu por 10 anos. Neste período assumiu a função de pastor distrital do Distrito Eclesiástico Taquara em duas gestões e foi membro do Conselho da 4ª Região Eclesiástica. Foi ordenado para o ministério pastoral a 23 de setembro de 1984, na Comunidade de Igrejinha.

Trocou Igrejinha por Portão em 1988, onde também
permaneceu por uma década. Neste período exerceu a função de vice-pastor regional da 4ª Região Eclesiástica. Foi o primeiro Pastor Sinodal do Sínodo Nordeste Gaúcho, exercendo essa função de 1998 a 2006. Ocupava, de 20 de dezembro de 2002 até hoje, o cargo de vice-presidente da IECLB.

Assumiu em 1º de fevereiro de 2007 a coordenação de
Missão Global da IECLB. Desde então mantinha estreito contato com obreiros com atividades em igrejas e instituições do exterior. Um sem-fim de mensagens procedentes de todo o Brasil e de vários países demonstrou o quanto seu jeito afetuoso e humilde amealhou pessoas ao longo da vida.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Como um pinheiro

Em memória do Pastor 1º Vice-Presidente da IECLB

Homero Severo Pinto (1952-2010)

“Ninguém tem maior amor do que este: de dar a própria

vida em favor dos seus amigos”. João 15.13


Aquele sábado ficará registrado na memória de quem pôde comparecer à Comunidade de Portão, RS, por muito tempo. Lá estiveram o povo da comunidade, mulheres e homens, jovens, estudantes, o grupo Ânima, pessoas de idade, pastoras e pastores, catequistas, diáconos e diáconas, lideranças sinodais, a direção da igreja, colegas da secretaria geral e, de modo muito particular, a família do Pastor Homero S. Pinto, a esposa, a filha, o filho, genro, nora e outros familiares. Impossível descrever a consternação e a tristeza que constrangia a todos. O sofrimento que se abateu sobre aquela família é indescritível. Foram 40 dias de agonia que Homero sofreu numa UTI de um hospital de Porto Alegre, durante os quais a família ficou firme a seu lado, sem descanso e em constante oração. Toda a igreja se somou a sua dor também intercedendo e demonstrando importante solidariedade, que chegava diariamente de todas as partes e também do exterior.

Naquela manhã era como se num momento toda a IECLB estivesse reunida não para discutir os rumos de sua história ou para decidir quem será sua direção no futuro. Desta vez nos reunimos simplesmente para chorar a morte de um colega muito querido, um pastor que deixou rastros por onde passou e cujo testemunho do evangelho certamente plantou sementes da fé em Cristo e da liberdade cristã que hão de germinar muito além de sua frágil vida e, agora, de sua sofrida ausência.

Junto com a família vamos sentir a perda desse colega por muito tempo. Vamos lembrar com especial atenção de suas ponderações e de sua lealdade ao evangelho e à igreja na qual decidiu participar já adulto por livre e espontânea vontade e à qual serviu com firmeza e visão pastoral, como recordou o Pastor Presidente Walter Altmann em sua pungente alocução. Homero se tornou em sua morte um símbolo de unidade! Sim, porque naquela manhã de todos os cantos do país vieram colegas e pessoas para reverenciá-lo, para agradecer por sua vida e orar por sua família. Símbolo de unidade porque ele reuniu de uma forma jamais vista numa sincera partilha de dor e esperança lideranças de todos os matizes teológicos e de todas as práticas evangelizadoras. Homero talvez tenha conseguido naquela manhã dar um último testemunho de que vale a pena caminhar juntos em função do objetivo maior que distingue a igreja cristã neste mundo: ser um sinal da missão de Deus com amor e paixão.

E como uma metáfora sempre nos ajuda a fixar melhor experiências como esta, será bom recordarmos a imagem que o Dr. Milton Laske, presidente do Conselho da Igreja, usou para ilustrar o significado do colega Homero para a IECLB e a comunidade ali reunida. Ele lembrou que só conseguimos avaliar com justiça a grandeza de um pinheiro quando ele cai ao solo. A metáfora vem de Abraham Lincoln, mas se prestou muito sabiamente naquele momento de dor, de despedida e de testemunho. Homero foi reconhecido como uma pessoa sensata, terna, afável, consciente de seu papel como pastor e liderança, e, sobretudo, amante do evangelho pelo qual deu a vida desde sua última viagem a Moçambique, onde contraiu a enfermidade que acabou o levando à morte. Ele foi um apaixonado pela missão de Deus! E por isto será lembrado entre nós. Missão de Deus – nossa paixão foi não só um programa para ele. Tornou-se, de muitas maneiras, em vida e agora selado pela morte, uma razão de ser e existir neste mundo. Por esta missão ele se empenhou, sonhou e agora deu a vida.

Talvez poucas vezes na história desta igreja o dito de Jesus que abre esta memória tenha se tornado tão vivo e presente entre nós. Glória seja, pois, ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo! Que o Deus de toda a paz o cubra com seu manto e preserve para sempre o seu nome no livro da vida. A mesma paz que excede todo entendimento esteja presente e guarde sua querida família. Amém.


Dr. Roberto E. Zwetsch

Faculdades EST - 26/04/2010


Texto extraído de: http://www.est.edu.br









quinta-feira, 29 de abril de 2010

A notícia que ninguém queria receber


O texto abaixo foi extraído do portal da ieclb:
www.luteranos.com.br

Não houve uma mulher, um homem, um jovem que não tivesse chorado durante o velório e sepultamento do pastor 1º vice-presidente da IECLB, Homero Severo Pinto. A perda de uma figura tão amorosa e emblemática e o sofrimento – mas também a serenidade – da família emocionaram as centenas de pessoas que visitaram sem parar, na sexta-feira dia 23, a igreja da Comunidade Evangélica de Portão (RS), onde o corpo foi velado, e acompanharam o enterro na cidade de Taquara (RS), no sábado, dia 24.

“Com o falecimento de Homero, a IECLB perde um de seus pastores mais sensíveis e dedicados. Sabia ouvir, sabia mediar, sabia consolar. Se o tema da IECLB no ano passado e neste é ‘Missão de Deus – nossa Paixão’, podemos atestar aqui que a missão de Deus era, para Homero, verdadeiramente uma paixão.”, disse o pastor presidente da IECLB, Walter Altmann, durante a pregação no sepultamento.


O pastor presidente lembrou a palavra de Romanos 8, onde o apóstolo Paulo manifesta sua convicção de que nada neste mundo, nem mesmo a morte, pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus. “Nessa mesma fé, Homero viveu; essa mesma fé ele testemunhou; essa mesma fé também o leva da morte para a ressurreição. Mais uma vez, com palavras do apóstolo Paulo:

“Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor.” (Romanos 14.8)

Mas nem por tudo o que se está vivendo a palavra “perda” é totalmente apropriada. “Os serviços que Homero prestou nos são motivo de gratidão, que já não podemos expressar a ele, mas que elevamos ao próprio Deus, abrigado em quem ele se encontra”, disse o pastor presidente. “Obrigado por sua dedicação, obrigado por seu serviço, obrigado por seu testemunho, obrigado por sua vida.”

“Um telefonema trouxe a notícia que eu não queria receber”, relatou o pastor sinodal do Sínodo da Amazônia, pastor Mauri Magedanz. “Pastor Homero foi uma pessoa que se dedicou integralmente ao serviço do Senhor Jesus entre nós. Nunca deixou de expressar seu amor pelo Sínodo da Amazônia, nas vezes que esteve aqui. Era zeloso, carinhoso, atencioso e amoroso com todas as pessoas.”

Impossibilitado de comparecer ao sepultamento pela distância e pelo prazo curto, Magedanz lembrou ter sido pessoalmente “carregado” pelo pastor Homero em novembro último, quando realizou uma cirurgia de extração de dois carcinomas na tireóide. “Agora, nesse momento tão difícil da sua morte, oramos para que Deus nos fortaleça como Igreja na tarefa de anunciar a certeza da ressurreição. E que nossos ombros sejam espaço de alento e força uns para com os outros, em meio à dor e ao sofrimento.”

O pastor Arzemiro Hoffmann, na despedida final, reafirmou com ênfase – para os presentes, mas especialmente para Denize, Catarina e Leandro, Mateus e Natália: a morte de Homero não foi em vão. Sua vida não foi em vão. “Cabe a nós assumirmos com a máxima seriedade a continuidade do seu trabalho, pelo bem da IECLB”, afirmou.

Inúmeros parceiros, ministros e ministras de diversas partes do mundo encaminharam mensagens de condolências, com palavras de consternação, solidariedade, conforto e esperança. “É raro presenciar o que aconteceu no enterro de Homero”, afirmou o pastor sinodal do Sínodo Rio dos Sinos, Enos Heidemann. Das centenas de pessoas presentes, nenhuma estava ali para conversar sobre outras coisas – mas para viver a dor. “Nunca havia visto uma comunidade tão unida em tão profunda tristeza”, disse.

O tapete de flores no qual se transformou sua sepultura e grande parte do terreno em volta refletiu um pouco do sentimento de todas e de todos. “Tenho certeza que se Homero estivesse aqui, ele teria abanado a cabeça e dito: nada disso era preciso.”


quarta-feira, 28 de abril de 2010

Alocução do Pastor Presidente no sepultamento

Filipenses 3.7-11

Alocução no sepultamento de Homero Severo Pinto, pastor primeiro vice-presidente da IECLB, Portão / RS, 24/04/2010

Minhas irmãs, meus irmãos, comunidade de fé,
em especial família enlutada,
muito em especial Denize, Catarina e Leandro, Mateus e Natália!

Nossa comunidade de fé não se restringe às pessoas que lotam este templo e nas muitas que se congregam lá fora, ela abrange as comunidades da IECLB Brasil afora e em irmãos e irmãs em muitos lugares do mundo. Já nessas primeiras horas após o falecimento do pastor Homero recebemos numerosas mensagens de condolências do Brasil e do exterior. Muitas outras, por certo, seguirão. Vocês, familiares, receberão todas elas. São palavras de consternação, palavras de solidariedade, palavras de conforto e, em meio à dor, palavras de esperança. [Aqui foram listadas as mensagens até então recebidas.]

Em Filipenses 3.7-11, o Apóstolo Paulo escreve:
“Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo.
Sim, deveras considero tudo como perda,
por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor;
por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo,
para ganhar a Cristo e ser achado nele,
não tendo justiça própria, que procede de lei,
senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé;
para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte;
para, de algum modo alcançar a ressurreição dentre os mortos.”

Quando o apóstolo Paulo pronunciou estas palavras, encontrava-se na prisão, e precisava contar com a possibilidade de que viesse a ser condenado à morte. E isso por causa de seu destemido testemunho em favor de Cristo.
Elas nos ajudam e confortam em nossa perplexidade. Perplexidade, sim, porque é impossível que não nos perguntemos por que deveria acontecer o que de tão trágico aconteceu. Que Homero, o qual com tanta paixão pretendia, acima de tudo e em todas as circunstâncias, servir a seu Senhor Jesus Cristo, tenha precisamente no exercício de seu ministério contraído insidiosa enfermidade que o colocou numa senda de sofrimentos e, por fim, à morte! Por que, Deus nosso?

Um hino que, em nossas reuniões, da Presidência com a pastora e os pastores sinodais, cantávamos com alguma frequência e que aqui também entoamos agora antes da pregação, o hino 221 do HPD, afirma:

“Senhor, porque me guarda a tua mão confio em ti.
Porque bem sei que teu querer é bom confio em ti.
Tu dás coragem, vences o temor;
louvor a ti, por teu imenso amor!”

Não é fácil confirmar tais palavras, quando estamos tão perplexos. O hino termina:
“Por me guiares, não preciso ver, nem mesmo sempre tudo entender!”

Que profundidade da fé, que percepção aguda dos insondáveis mistérios de Deus!

Paulo se transformara de perseguidor da Igreja em seu maior missionário. E, conforme a tradição da Igreja Antiga, sofreu, ao final, o martírio. Ao se transformar em seguidor de Cristo, descobriu também que passaria a compartilhar os seus sofrimentos, que, como diz nosso texto, viria a conhecer, sim, o poder da sua ressurreição, mas igualmente experimentar a comunhão dos seus sofrimentos, com o que assumiria em sua vida e na sua morte a forma do próprio Cristo. E não sem essa experiência haveria de alcançar a ressurreição dentre os mortos.

Em outra parte, a saber, em Romanos 8, Paulo também iria manifestar sua convicção de que nada, nada neste mundo, nem mesmo a morte, pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus. Nessa mesma fé, Homero viveu; essa mesma fé ele testemunhou; essa mesma fé também o leva da morte para a ressurreição. Mais uma vez, com palavras do apóstolo Paulo:
“Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos;
se morremos, para o Senhor morremos.
Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor.” (Romanos 14.8)

Foi um tempo de provação.

Foram 40 dias na UTI do Hospital São Lucas, da PUC, em Porto Alegre. Foram dias de provação para ele, para vocês familiares. Quarenta dias nos fazem recordar os 40 dias da tentação de Jesus no deserto. Lembram-nos também os 40 anos em que o povo de Israel peregrinou pelo deserto, em direção à terra prometida. Qual Moisés que do alto do Monte pôde divisar a terra prometida em toda a sua extensão, mas lhe foi vedado adentrá-la, também Homero, em seus tão poucos 57 anos, divisou o futuro, sonhando e lutando por uma IECLB comprometida com a missão, cuidadora de seus ministros e ministras, e pastoral e espiritualmente dedicada a seus membros e comunidades, mas veio a falecer no limiar de uma nova fase na história da IECLB. Sabemos que ele teve consciência da gravidade de sua doença e, com ela já em estado severo, ainda se preocupou com sua família, manifestando cuidado para com ela.
Vocês familiares foram submetidos a uma extraordinária demanda física e emocional. Responderam a ela com extrema dedicação e encontraram energias para, através de comunicados sóbrios, com muita dor mas sem rancores – ao contrário, repletos de confiança em Deus –, fortalecer uma comunhão de solidariedade e oração na IECLB e em muitos lugares do mundo.

Experimentamos dolorosa perda.

Com o falecimento de Homero, vocês familiares sofrem uma perda incomensurável. Bem sabemos o quanto lhe valia a esposa e companheira, a família. Falava de vocês não apenas com amor e carinho, também com orgulho pelo que vocês foram para ele, pelo que vocês são. E perde a IECLB um de seus pastores mais sensíveis e dedicados. Sabia ouvir, sabia mediar, sabia consolar. Se o tema da IECLB no ano passado e neste é “Missão de Deus – nossa Paixão”, podemos atestar aqui que a missão de Deus era, para Homero, verdadeiramente uma paixão.

Homero não foi um luterano “de berço”, como inapropriadamente se diz. Como jovem se envolveu na Juventude Evangélica, ainda católico foi presidente de grupo de JE – esta, sua experiência fundante de ecumenismo de vida – e, movido em seu coração por obra evangelizadora na IECLB, livremente dela se tornou membro. E, sem claudicar, era na IECLB que pensava também em todo e qualquer embate interno nesta igreja e em todos os cargos que veio a ocupar e em todos os órgãos de que participou. Para mim, como Pastor Presidente, foi um companheiro de notável lealdade, sempre disposto a assumir tarefas, sem medir se eram atribuições suas ou a ele delegadas. Me farão tanta falta suas ponderações, suas sugestões, também suas perguntas, que as tinha muitas, suas palavras de apoio e encorajamento, igualmente seus conselhos, enfim sua amizade, seu companheirismo e sua comunhão fraterna.

Expressamos gratidão e vislumbramos os frutos.

Nem por tudo que até agora dissemos a palavra “perda” é totalmente apropriada, como uma das mensagens de condolências recebida bem observa. Os serviços que prestou nos são, isso sim, motivo de gratidão, gratidão que já não podemos expressar a ele, mas que elevamos ao próprio Deus, abrigado em quem ele se encontra. Obrigado por sua dedicação, obrigado por seu serviço, obrigado por seu testemunho, obrigado – por sua vida!

A vida também brota aqui. Catarina e Leandro, a vida da filha que vocês esperam seja símbolo dessa realidade, dádiva divina. Sem poder ainda ter noção do que entre nós se desenrolou, Letícia, muito antes de nascer, já foi a alegria do avô. O apóstolo Paulo conheceu o poder da ressurreição através da comunhão dos sofrimentos de Cristo, tornando-se conforme com ele na sua morte, para, como diz, “de algum modo, alcançar a ressurreição”. Se nossa fé, se limita a esta vida, somos as criaturas mais infelizes; contudo, cremos na ressurreição. Assim, Homero passou da morte para a vida.

Uma palavra ainda a respeito de Moçambique.

É um nome que nos evoca experiências tão dolorosas. Lá Homero contraiu a enfermidade que veio a vitimá-lo. Há seis anos atrás, a Irmã Doraci foi lá brutalmente assassinada. Mas Moçambique é um nome que queremos colocar na perspectiva de Deus. Após a trágica morte da Irmã Doraci, tive oportunidade de, em certa ocasião, expressar a esperança, o voto e a convicção de que esse evento doloroso não teria sido em vão, que as sementes que ela deixara no centro-norte de Moçambique, na região de Nampula, particularmente em Moma e outras localidades, haveriam de brotar e, a seu tempo, dar bons frutos. Homero retornou da recente ida a Moçambique alegre e animado. Ele foi testemunha do crescimento das comunidades que surgiram com o testemunho e o serviço da irmã Doraci, participou naquela localidade tão pobre da inauguração da clínica de saúde dedicada a ela, a ela que tanto se dedicara ao cuidado com a saúde para aquele povo sofrido, ouviu relatos comoventes de pessoas sumamente gratas a ela e por causa dela assumiram ou se preparam para o ministério. Também as sementes que Homero semeou em solo brasileiro e em outras terras continuarão germinando, as plantas crescerão viçosas e, a seu devido tempo, darão abençoado fruto.

Os caminhos de Deus são muitas vezes insondáveis, mas suas maravilhas, sempre grandiosas!

Esta é a boa nova da ressurreição.

Amém.

Walter Altmann
Pastor Presidente da IECLB

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Nota de falecimento da IECLB

Abaixo, link para nota de falecimento emitida pela IECLB, com sucinta história de vida.

http://www.luteranos.com.br/articles/14263/1/Nota-de-Falecimento-P-Homero-Severo-Pinto/1.html

23/04/2010

O pai faleceu hoje, dia 23 de abril, às 04h30min.
O corpo será velado no tempo da Igreja Evangélica de Confissão Luterana em Portão (Rua Martin Luther).
A cerimônia religiosa terá início as 09 horas de amanhã (sábado dia 24 de abril), em Portão.
O sepultamento ocorrerá em seguida, no Cemitério Municipal de Taquara, às 12h.